A guitarra nasceu dos violões amplificados. Estes eram simples instrumentos acústicos adaptados com captadores. Como a maioria das inovação na história da guitarra, ela surgiu da necessidade de se obter maior volume.
O coração da guitarra sólida é o captador magnético. Este dispositivo responde diretamente à vibração das cordas, transformando esta energia em impulsos elétricos, que são em seguida amplificados e alimentados a um alto-falante. Para maior eficiência, o captador deve ser o mais estável possível e livre das vibrações do corpo.
Quando um captador é ajustado ao tampo de um violão, podem aparecer dois problemas: Primeiro, o captador pode se mover com as vibrações do tampo. Segundo, podem ser geradas microfonias. Nas guitarras elétricas, a solução foi aumentar a massa do corpo para reduzir a capacidade de receber e transmitir vibrações. Se essa idéia fosse levada a extremos, a conclusão lógica seria construir o corpo de concreto ou mesmo de chumbo. Na prática, fazem-se concessões. Através de experiências com vários protótipos, os primeiros fabricantes de guitarra descobriram que madeiras duras e densas reduzem os problemas a nível bastante aceitável.
O corpo
Há muito menos exigências no projeto de um corpo sólido do que no de um violão. O violão deve ser construído de acordo com certos parâmetros para produzir volume de som suficiente e timbre aceitável. Quanto á guitarra, basta que o captador seja bem estável e haja espaço suficiente para todos os seus componentes. A forma é limitada apenas pela praticidade e pela imaginação do projetista.
Alguns exemplos de infinitas possibilidades são as Gibson Flying V e Explorer, a Vox Phantom, Ibanez Jem, Parker Fly, Steinberger, Ovation Breadwinner, Carvin V220T e a Strandberg Boden Plini.
Madeiras duras, secas naturalmente ou em estufa, tais como mogno, nogueira, freixo, amieiro e maple, são frequentemente usadas na fabricação de guitarras maciças. No Brasil, usam-se imbuia, pau-ferro, louro-preto, marfim, caxeta, mogno, jacarandá, grumava. Mesmo assim, é o comum o uso de compensados.
As guitarras originais Les Paul, na verdade, têm corpo de mogno com uma “tampa” de maple.
Vários outros materiais tem sido empregados, como por exemplo, as guitarras de acrílico de Dan Armstrong, sem contar no número razoável de luthiers espalhados pelo planeta, que fazem todo tipo de experiência com materiais diferentes, existindo até guitarras de corpo sintético. O material usado na fabricação do corpo da guitarra pode, na realidade, afetar o som do instrumento. Quanto mais denso o material, maior será a sustentação natural (sem feedback) da guitarra.
O braço
O braço das guitarras é muito semelhante ao dos violões. No entanto, há muito maior liberdade quanto ao ponto em que o braço se junta ao corpo.
A guitarra maciça evoluiu como instrumento de solo, tocada frequentemente acima do 12º traste. Consequentemente, para facilitar ao guitarrista o acesso à parte superior da escala, um corte simples ou duplo foi incorporado ao projeto do corpo, fazendo o braço juntar-se ao corpo num traste mais alto. O ponto de junção é geralmente chamado “traste do corpo”. O braço da Gibson SG DeLuxe, por exemplo, junta-se ao corpo na altura do 20º traste.
Há muita controvérsia quanto ao método de junção do braço ao corpo. A maioria dos argumentos gira em torno da sustenção (a duração do som da nota após ter sido tocada).
De três diferentes métodos de construção, considera-se que o braço colado dá uma junção melhor e, portanto, maior sustentação do que o braço parafusado.
Um braço construído numa só peça (ou em seções laminadas) de madeira que atravessa todo o corpo dá maior sustentação do que o braço colado. No entanto, os argumentos não são definitivos. A sustentação também depende da densidade da madeira com que o corpo é feito, do material usado para a pestana e o cavalete e da potência dos captadores.
Com menos restrições de projeto do que os violões, as guitarras apresentam diferentes tipos de tensores ajustáveis. As guitarras Fender tem o parafuso de ajusto do braço junto ao corpo, em vez de junto à paleta.
A Rickenbacker, por seu lado, desenvolveu um tensor duplo, para possibilitar ajustes laterais.
Fonte: The guitar handbook by Ralph Denyer
O braço de guitarra apresenta muitas variáveis de medidas, que determinam sua qualidade e o conforto que o músico sente ao tocar: acabamento, shape, raio de curvatura da escala e trastes.
Acabamento
Algumas madeiras não precisam de uma camada espessa de verniz ou seladora, uma camada fina já funciona para proteger o instrumento (um exemplo são os braços das MusicMan, que possuem um acabamento simples em óleo, o famoso Tru-Oil, para que você sinta a madeira crua nas mãos e tenha a proteção mesmo assim). Outras madeiras, no entanto, nem precisam de acabamento, como é o caso do Rosewood (jacarandá) e o Ébano.
Quanto a parte de trás do braço, além das opções acima ele também pode ser pintado, seguindo o padrão do corpo da guitarra.
Shape
Shape é o formato abaulado da parte posterior do braço. Há vários tipos de shape, com variações de espessura e raio de curvatura.
Raio de curvatura da escala
Relembrando a geometria: “o raio de uma circunferência (ou círculo) é definido como a distância do centro a um ponto qualquer da circunferência”. Veja abaixo alguns exemplos:
Trastes
Por ser matematicamente calculado, qualquer desvio de medida na instalação pode comprometer a afinação da guitarra.
Variam em tipo (níquel prata, inox, bronze/latão), no formato/perfil (fino, médio e jumbo) e na altura (traste fino e mais baixo, ou fino e mais alto, e a mesma concepção vale para os trastes médios e jumbo).
Os mais largos (jumbo), geralmente favorecem a tocabilidade mais virtuosa, como técnicas de ligado, tapping e velocidade. Já os menores são mais confortáveis para acordes; mas isso não é regra, é percepção e cada músico pode ter uma visão diferente.
Quanto mais alto é o traste, mais distante as cordas e a mão do músico ficam da escala e por isso, exigem mais força para tocar.
Os trastes desgastam com o tempo, por isso indico os de inox, que são mais duráveis. Trastes desgastados causam trastejo e imprecisão de afinação. O pior inimigo do traste é a ferrugem e oxidação das cordas, pois desgasta as varetas.
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