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Foto do escritorMarcelo Naudi

Steve Morse: como melhorar seus solos.

Vamos falar de uma questão que é muito importante para todos os guitarristas: a improvisação nos solos. Em primeiro lugar, eu sei que existem guitarristas que afirmam não ligar muito para solos por diversas razões, mas acho que eles são uma minoria.

Quem faz um bom solo? Esta pergunta traz à tona uma outra questão: o que pode ser considerado uma música “boa” ou “ruim”? Embora eu concorde que não se pode qualificar como bom ou ruim, ou mesmo expressas isto em unidades exatas, nós sabemos quando algo é excelente ou não, certo?

Eu então terei que supor que você respondeu “sim” para poder continuar a expor a minha opinião. Ok, então o que faz um solo ser bom? No meu ponto de vista, um bom solo possui um bom fraseado ou uma boa forma, um conteúdo expressivo e uma emoção verdade. Nós iremos aqui analisar estes fatores separadamente.


Fraseado

Como eu já disse anteriormente, um guitarrista sempre terá uma enorme quantidade de individualidade na forma de tocar se houver uma semelhança de fraseado. Você pode tocar coisas bem diferentes, quando desejar, desde que haja intervalos naturais na sua ação. Mesmo que você toque em estilos facilmente reconhecíveis (aqueles que estão na moda, para ser mais exato), a simples adição de um fraseado natural fará com que pensem que você é um gênio. Como eu sempre digo nas minhas clínicas, mesmo que você faça apenas isto, ainda assim o público o verá como um bom guitarrista.

Uma das melhores maneiras de se praticar o fraseado é um exercício bem simples, embora seja o mais difícil de ser lembrado no palco: tocar uma frase de dois compassos, começando em um compasso e terminando no seguinte. Como exercício, tente tocar um compasso e meio apenas em colcheia, terminando o segundo compasso com uma mínima. (Tente sempre variar a forma de cada frase para que não tenham o mesmo ritmo.) Depois, tente tocar uma estrutura de frases onde o terceiro grupo de dois compassos é igual ao primeiro. Se colocarmos letras do alfabeto correspondendo a cada uma destas estruturas de frase, nós teríamos: a b a c. Na verdade, tudo o que você precisa é tentar fazer com que o terceiro grupo de dois compassos esteja relacionado com o primeiro e improvisando o tempo todo, o que ainda é o melhor meio de tocar um solo.

Agora, uma outra forma de exercício: toque as frases a b a considerando apenas a parte rítmica; faça com que a segunda frase seja ascendente e a quarta frase descendente; Como forma mais básica deste exercício, faça com que a primeira e a terceira frase sejam exatamente iguais. Quando tiver mais experiência com este exercício, você será capaz de adicionar algumas variações interessantes para que duas frases não sejam exatamente iguais, mas elaboradas a partir de um conceito similar. As pequenas variações farão com que o exercício não soe muito maçante.


Conteúdo

Esta é uma daquelas áreas da música que são muito difíceis de serem descritas com palavras, mas um ingrediente que sempre funciona é o fraseado melódico. Agora você pergunta: “O que significa ser melódico?” É a qualidade dos fatores equilíbrio, surpresa e mudança que fazem com que as notas não soem como um exercício de escala ou arpegio. Vamos considerar um exercício simples para ilustrar alguns conceitos que poderiam contribuir para um estilo melódico. Claro que é preciso mais do que um simples exercício para poder tocar de forma melódica, mas tente ao menos entender o que quero explicar. Assim como o anterior, este exercício deve ser executado em 4 frases. A frase 1 pode ter uma estrutura do tipo: 1-2-3-4-3-2-1, finalizando na sétima abaixo do 1. A Frase 3 poderá ser similar a Frase 1. A Frase 4, por sua vez, seria 1-2-3-4-5-7, finalizando uma oitava acima do 1.

Se todos estes números parecem um pouco confusos a você, encare este exercício de outro modo: estrutura, frase para baixo, estrutura similar, frase para cima. Novamente, quando estamos tocando de verdade, não paramos para pensar deste modo. Por isso, nós praticamos estes exercícios visando adquirir maior segurança na hora de tocar de verdade.

Eu acho muito importante que a forma de praticarmos os exercícios deva ser radicalmente diferente da forma que tocamos, para que se possa sempre testar novos elementos.


Emoção verdadeira

Este é outro tópico muito difícil de ser descrito, mas eu acho que dá para sentir quando o guitarrista está realmente tocando com o coração. Vamos imaginar que um solo com emoção é igual ao que você fala durante uma discussão sobre alguma coisa em que você acredita, e, por outro lado, um solo mecânico é igual a um político lendo um discurso preparado. Em qual dos dois está a emoção? Tente fazer todo o possível para fazer o seu solo fluir como se você estivesse descrevendo um momento único que nunca poderá ser repetido. Quando alguém faz a mesma pergunta inúmeras vezes, você fica tão cansado de repetir a mesma resposta, que isto será perceptível no seu tom de voz. Do mesmo modo, a repetição exata das mesmas ideias poderá fazer com que o seu solo soe pouco inspirado. Para passar uma emoção verdade é preciso arriscar. Eu espero que cada solo que você faça seja uma experiência inigualável na sua vida, e a melhor maneira de conseguir isto é sempre pensar na musicalidade quando você estiver tocando.


Fonte: Revista Guitar/1998

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